sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

NO.4








Fecho momentaneamente os olhos e visualizo uma menina de olhos esbugalhados, olhando para a sua mãe e prometendo-lhe que um dia a levaria a viajar. E noutro cenário, vejo a menina numa outra conversa com a mãe, ambas de mãos firmemente entrelaçadas, ficou a promessa de sempre se amarem daqui até à Lua. Dou por mim a retroceder e a relembrar…, vejo a menina agarrada à mãe, sorridente, jurando que a mãe seria sempre a sua melhor amiga. Só podia confiar na mamã, porque só a mamã a amava como ninguém.  

Volto a abrir os olhos, estou a olhar para o vazio enquanto a minha mãe me dá um sermão daqueles que duram cinco minutos seguidos, sem pausas. Estou cansada de discutir com ela, desde os meus dezoito anos que não achamos meio de nos entender. A maior parte das vezes perco a cabeça, digo o que não devo, palavras que fluem do pensamento, nunca do coração, e depois claro…fico-me a sentir péssima enquanto filha. Quero expressar o quanto gosto dela, o quanto a quero compensar, dizer que sim, que ela está certa, mas o que realmente sobressai é o orgulho resumido num par de palavras “Vá mãe, chega. Deixa-me estar.” Mas mãe, eu entendo-te. Eu oiço-te, na hora ou depois, mas é nas tuas palavras que eu acabo sempre por reflectir. E por mais que discordamos, por mais que seja difícil compreenderes as minhas vontades, só te peço pelo menos confiança na educação que me deste. Porque eu sou um pouco de ti, e ser tu, minha mãe, ser tu é estar lá para o próximo, é ser-se humilde nas grandes e pequenas fases da vida, é saber dar sem esperar retorno. Ser tu, é enfrentar a vida de frente, é vingar com o sucesso, é matar com amor, é proteger, é brilhar, é sorrir e iluminar, é gostar incondicionalmente.
É isso. Sou apenas um pouco de ti. Quarenta porcento tu, com os teus valores, sessenta porcento eu, com o meu feitio. Os teus valores guiam-me, o meu feitio protege-me. Porque mãe, nesta sociedade já não se pode ser apenas boa pessoa. Eu tenho a minha máscara, os meus fracassos, os meus ódios, os meus pecados… Infelizmente, nasci para ser mais eu do que tu, mas não deixo de te ter em mim…se me souberes olhar nos olhos quando me olhavas quando eu era pequenina, verás a verdade em mim.

Não percas a esperança na nossa viajem e na nossa casa na praia. Não percas a esperança em mim,

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