domingo, 22 de janeiro de 2017

NO.2




Chamam-lhe de heartbreak, quando estamos debaixo dos cobertores, recolhidos na nossa insignificância, a tentar controlar a respiração e em simultâneo a pensar como é que algo tão certo, deu tão errado. Não conseguimos dormir, porque a ânsia não deixa. E acordar é todos os dias a certeza de que a realidade não desmente o pesadelo. Um novo dia, é mais um dia sem saber como fingir que está tudo bem, quando na verdade, o teu interior está desfeito. Algo se quebrou. Não sabes se para sempre, mas temes que assim seja e dás por ti a rezar que passe. Que passe o quanto antes. Que algo, alguma coisa leve a dor que nunca se ausenta do teu peito. E a única coisa que passa é o tempo, e o tempo só te vai fazendo aperceber que por mais que bebas, por mais que fumes, por mais que tentes ser outra pessoa que não tu, acabas sempre por voltar ao tormento. E quando sabes que não tens paz, nem mesmo longe da sobriedade, sabes então que a pessoa não te magoou. Destruiu mesmo.
É o que lhe chamam. De heartbreak.
Esse era o meu estado até há bem pouco tempo. Perdi o rumo, perdi-me de tudo e de todos. De mim mesma. Um desgosto amoroso não é apenas um drama pessoal, é uma dor tão aceitável e que deve ser compreendida e acompanhada, como qualquer outra dor. É sério, fez-me perder 10 kg. Só não me matou, porque não calhou. E quanto mais ouvia "calma, tens a vida toda pela frente para encontrar alguém", mais frustrada me sentia. O objetivo não é fazer-nos ver o óbvio - que teremos de seguir em frente, sem a pessoa, porque é esse mesmo pensamento que nos bate constantemente. Saber que estás tão mal, deste tanto e a pessoa dorme com tudo de consciência limpa. A mágoa vai-se tornando em revolta. De repente, beber é um hábito que começa a fazer efeito. O fumo vai-te confortando. A sobriedade deixa de te assustar, sabes que a podes desligar quando quiseres. Já dominas, começas a controlar-te, a saber canalizar as tuas emoções, ainda que haja alguma angustia presente. Mas é algo tão costumeiro, que adormece em nós. Está lá, sentimos, mas tanto faz. E o mundo torna-se nisso mesmo, um tanto faz.
É o que lhe chamam, as consequências de um heartbreak.
Se passa? Claro que passa. Mas nada fica igual, o que nem sempre é mau. Eu pelo menos gosto da mudança. Passar tanto tempo resumida a mim mesma, fez-me conhecer um lado de mim que desconhecia até agora. Aceitei que a minha felicidade não está nem tem de estar dependente de outra pessoa, porque toda a gente está sujeita a ir. Deixar a felicidade nas mãos de outro alguém, é o mesmo que largar uma folha de papel ao vento. Tanto pode rodopiar, ir e voltar, como pode esvoaçar para bem longe...e tu ficares. Não! Afinal de contas não somos menos que ninguém, o teu orgulho conta, os teus sentimentos contam, a tua existência conta. Depender de alguém tornou-se um tabu na minha vida, o que não implica necessariamente deixar de confiar. Fechei-me ao mundo, é verdade, mas ganhei coragem de voltar a mostrar-me. Apenas mais confiante, decidida e esperta. Com os meus vícios e inseguranças guardados, porque só eu devo saber os meus limites. Mais ninguém. Se estiver no fundo do poço, prefiro ter-me a mim mesma, voltar a subir por mim mesma, porque sei que já o fiz antes.
Quem supera um desgosto, não se torna necessariamente numa pessoa mais fria, tão pouco isolada. Apenas mais racional. Se alguém tiver de vir, que seja. Caso contrário, vá na paz do Senhor.
Eu vou aqui ficando, na minha, sem expectativas, bebendo aqui e ali, vivendo a vida como sei, valorizando o simples e o complexo.









2 comentários:

  1. Bem, quando dizem que a vida tem destas, não estavam a brincar. Mas sabes? As coisas más acontecem para nos ensinarem a sermos mais nós mesmos... E mesmo nunca tendo passado pelo que passaste, consigo compreender a parte de vivermos para nós e nunca em excesso pelos outros, pois isso é tóxico e bem mais propício a nos magoar do que qualquer outra coisa! Fico feliz por estares a conseguir ultrapassar. Talvez ainda não estejas a 100%, mas se ainda aqui estás, é porque ainda tens muito que conquistar!!
    Beijinhos!

    A Vida de Lyne

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    1. Palavras sábias minha Lyne, mas a vida é assim mesmo. Lamentar ou recusar aceitar a realidade, não muda o passada, nem melhora o presente. Há coisas pelas quais temos de passar, não tem como ser de outra forma. Porque grandes coisas, valores e conceitos só nos são passados se aprendermos da forma mais dura. É o preço hahaha portanto não vale a pena viver com medos, inseguranças ou com traumas do passado. Let it be! Obrigada pelo teu carinho constante!

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